“Não temos que criar guetos para as pessoas com deficiência. Temos é que criar espaços para que elas sejam incluídas, possam participar desses espaços e tenham seus direitos garantidos como pessoas”. Com esta afirmação, o secretário municipal de Trabalho e Renda do Rio, Everton Gomes, abriu, nesta terça-feira (5/12), o encontro “Jornada da Inclusão, Mais Inclusão e Menos Capacitismo”, no Planetário do Rio, na Gávea. De acordo com o secretário, é importante que a luta contra o capacitismo não seja feita só de narrativas.
– Ela tem que se dar de fato, e, para se dar de fato, nós temos que praticar esta luta em todos os espaços. Hoje, por maior que seja nosso esforço, ele ainda é muito pequeno, e nós ainda precisamos avançar muito no caminho da inclusão.
Na abertura da Jornada, Everton Gomes lembrou ainda que, quando foi presidente da Fundação Parques e Jardins, uma advogada o procurou com um abaixo-assinado, com mais de dez mil assinaturas, pedindo a abertura de cerca de 30 centímetros na entrada de um parquinho para que o seu filho, cadeirante, pudesse brincar na Praça Iaiá Garcia, na Ilha do Governador.
– A professora Consuelo, mãe do Artur, estava naquela luta há quatro anos – explicou Everton Gomes, acrescentando que o papel do poder público é desfazer obstáculos e promover a inclusão de todos os cariocas.
Empregabilidade, cidadania, artes plásticas, dança e foco na inclusão. Essas foram algumas das atrações da “Jornada da Inclusão, mais inclusão e menos capacitismo”, que reuniu pessoas com deficiência, familiares, especialistas e o poder público para discutir uma sociedade com mais inclusão, acessibilidade e que mantenha abertas as portas do mercado de trabalho formal a esse segmento, que representa quase 25% da população brasileira. Apesar da grande representatividade, o panorama no mundo do trabalho não é animador: apenas 29% das PCDs em condições de trabalhar estão empregados, segundo a Pnad Contínua.
Para tentar quebrar essa barreira, a Secretaria Municipal de Trabalho e Renda do Rio (SMTE), responsável pelo Planetário, montou uma base do programa Trabalha Rio na Gávea. Lá, foram cadastradas PCDs para processos seletivos a vagas formais. Só esta semana, a SMTE divulgou mais de 700 vagas especiais para esse público.
A mobilização da SMTE em defesa das PCDs contou com a participação da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPD), que debateu temas como os empregos apoiados, ação voltada para a equidade na empregabilidade dos PCDs.
– O emprego apoiado nasce da descoberta das preferências da pessoa com deficiência – explicou a subsecretária Flavia Cortinova, salientando que essa metodologia inverte a lógica habitual dos processos seletivos das empresas, que não costumam nascer da observação das aptidões dos candidatos. Com o emprego apoiado, há a preparação para a vida laboral e o estímulo permanente à pessoa com deficiência.
Ter um emprego apoiado fez toda a diferença para a jovem Vitória Griner, de 21 anos, que gerencia o sistema da biblioteca de uma escola na Gávea.
– Foi com o emprego apoiado que eu fui efetivada de fato. Trabalhar faz muita diferença na minha autoestima, me faz ver que eu sou capaz – contou Vitória, que é cadeirante, acrescentando que, muitas vezes, empresas contratam pessoas com deficiência apenas para cumprir cotas, sem compromisso com a verdadeira inclusão.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro esteve presente na Jornada, tirando dúvidas jurídicas sobre benefícios previdenciários e direitos em geral da população PCD, com equipe coordenada pela defensora Marina Lopes. Ao longo de todo o dia, oficinas trouxeram conhecimentos novos para os participantes, com destaque para a “Pele na Tela”, oferecida pela professora May Tully Ramasine, que ensinou aos participantes a reutilização de maquiagens descartadas como matéria prima para pintura de telas.
Um dos rostos maquiados na oficina foi uma das atrações da “Jornada da Inclusão”: José Jackson Down, de 25 anos, fez cover do ídolo pop Michael Jackson em “Billy Jean”, com direito até mesmo ao famoso passo do “moonwalk”. José, que começou a dançar num casamento durante a adolescência, se apresenta há seis como Rei do Pop, e já se profissionalizou como dançarino no Sindicato dos Profissionais de Dança do RJ.
– A dança significa que o diagnóstico não me define – arrematou o artista.
– Ele começou com uma brincadeira e rompeu o medo. Ensaia todo os dias, não vê barreiras. A gente, enquanto família, apoia – completou Márcia Póvoa, mãe de José.