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Paixão pela confecção de roupas para quadrilhas juninas passa de geração para geração em João Pessoa

As mãos rápidas e precisas no alinhavar das saias multicoloridas fazem resplandecer uma paixão que na casa de Maria de Lourdes Oliveira vem passando de geração para geração. É o São João que chega no Nordeste, e igualmente na Paraíba, movimentando toda uma cadeia produtiva que mexe com o bolso e os corações de quem não sabe viver sem respirar os ares da tradição junina.

Aos 90 anos, dona Maria não se vê longe das anáguas, rendas, e bordados que enfeitam a vestimenta das quadrilhas juninas, grupos que se apresentam trazendo encantamento para o São João Multicultural de João Pessoa, promovido pela Prefeitura Municipal, por meio da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope).

“Não penso nem tão cedo em aposentar minha máquina de costura. Não tem coisa melhor do que trabalhar. O amor, a fé e a vontade é o que me fazem continuar forte. E quando a gente vai ver as quadrilhas juninas se apresentarem e vê as roupas que a gente costurou, essa é a parte que mais deixa a gente feliz”, conta.

O gosto pela costura e pelas roupas coloridas que abrilhantam as festas juninas não se limitou ao coração de dona Maria de Oliveira. A filha, que carrega o mesmo nome, também se apaixonou pelo ofício e seguiu os passos da mãe nas atividades manuais.

“Eu peguei esse gosto pela costura da minha mãe, aprendi com ela e agora esse tempo todo, desde 1986 para cá, no junino”, narra Maria, revelando alguns segredos até então desconhecidos nesse caminhar que a levou até as quadrilhas juninas.

“Eu tinha 12 anos quando comecei. Via minha mãe costurar e gostava. A gente morava no Sertão e quando viemos para João Pessoa ela viajou para São Paulo e os clientes dela chegavam lá em casa. Aí eu dizia: Deixa aí, quando ela chegar, ela faz. Só que eu fazia e entregava. Aí comecei e a paixão foi só crescendo”, lembrou.

O sentimento de amor pelo que faz não parou aí na segunda geração. Roberta Rayene é filha e neta das Marias dessa história e agora responsável pelo ateliê e pela maioria dos trabalhos realizados nele. “Fui criada em quadrilha junina, meu pai sempre teve uma, minha mãe e minha avó sempre costuraram para quadrilha. É uma coisa que quando eu vejo eu não consigo não me emocionar. Quando a gente vê as roupas que confeccionou a emoção bate forte. Eu acho que só quem sente, sabe. Você ser quadrilheiro já é um estilo de vida”, suspirou Roberta.

São João começa em janeiro – A emoção transpassada na voz, no riso e no olhar dessas três mulheres é incrível. Mas, nem só de amor vive essa geração. O período junino em João Pessoa é também para elas um momento de lucrar e garantir uma renda que vai durar alguns meses. Roberta conta que chega a confeccionar cerca de 350 saias para as quadrilhas juninas neste período. Cada peça sai em torno de R$ 700. Aliás, para Roberta, a mãe e a avó, o São João começa em janeiro.

“Começa pelo projeto piloto. O que é esse projeto piloto? Quando o marcador, o presidente, enfim, o roteirista da quadrilha cria o roteiro que a quadrilha vai usar, a cor de figurino, eles mandam para o figurinista, o que vai precisar, o figurinista faz o croquis, o desenho do figurino, e eles mandam para a gente. A gente vê o que vai ser necessário na compra da peça piloto e faz. O roteirista aprova e começamos a confecção das peças”, detalhou Roberta Rayene.

No ateliê do trio tem mais duas pessoas trabalhando e, claro, lucrando com a festa. “Sempre fomos eu, minha mãe e minha avó. Esse ano tem meu cunhado e outra moça que está vindo me ajudar todos os dias. São cinco pessoas comigo. E a trabalheira é grande, a gente trabalha o dia inteiro. Estamos começando às sete da manhã, estendendo até uma da madrugada, dá umas cinco horinhas de sono, come quando dá e assim vai. Não saímos da máquina”, disse cansada, porém feliz.

A mãe de Roberta confirma que o período junino é muito bom para o bolso delas. “É o período que a gente junta um pouquinho para fazer algo a mais e aumentar nosso ateliê”, revela.

Mas, para Maria de Oliveira o que a deixa orgulhosa de verdade é ver a filha falar da profissão com tanto orgulho e trabalhar de maneira tão comprometida e responsável que a faz até superar a própria mãe.

“Eu visualizo, no futuro, ver o nome dela lá nas alturas. Coisa que eu não consegui, ela vai conseguir, se Deus quiser. Já está conseguindo. Eu vejo as coisas que ela faz e tenho muito orgulho. Ela é muito caprichosa”, encerrou.